segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Nossa Política - A arte de ganhar no grito

O debate político no Brasil tem sido primitivo ao longo do tempo, independente da coloração partidária que esteja no poder. Invariavelmente, ao invés de debate, o que se tem é a firme disposição de calar o outro lado, eliminar o contraditório.
Nos primeiros treze anos desse século tivemos o PT no poder federal e em muitas instâncias subnacionais. O Petismo parecia mais eterno que os diamantes (1). Nesse período o debate só fluía entre os diferentes tons de cinza do chamado Campo Progressista. Qualquer coisa que saísse do espectro ideológico das esquerdas era imediatamente vetado, sabotado, rotulado, vide os inúmeros casos de debates cancelados na marra . Uma rápida busca na internet nos mostrará workshops e palestras sendo cancelados no grito, autores convidados sendo "desconvidados" por pressão de grupos ativistas de esquerda. Quem não se lembra da blogueira Cubana dissidente Yoani Sánchez, que veio ao Brasil em 2013 e sofreu o diabo nas mãos das nossas esquerdas, sendo perseguida em aviões e onde quer que ousasse pisar.
Nesse cenário parecia até que não havia pensamento divergente da onda dominante de esquerda no Brasil. Nas Universidades, nas artes, na imprensa e na intelectualidade em geral só se via e só se ouvia o que era aceitável no espírito dessa onda.
Agora, a partir das jornadas populares de 2013, turbinadas pela Lava Jato e seu projeto de poder, vivemos exatamente a mesma situação, só que em sentido oposto. O reacionarismo mais tacanho, as concepções de mundo mais primárias e o autoritarismo mais ostensivo, com a mesma intolerância ao outro, as mesmas táticas da rotulagem, da calúnia, da difamação e do esmagamento.
Conclusão, ainda estamos num estágio de maturidade do nosso debate político onde impera a ignorância e a truculência. Não há a menor disposição para a composição, para a convergência negociada, para a aceitação da legitimidade do outro. Só temos a ânsia de calar, de interditar o debate e de impor a nossa visão de mundo. Qualquer divergência é imediatamente taxada de comunista ou de esquerdinha mi-mi-mi e o debate acaba. E assim seguimos aos trancos e barrancos, de uma obscuridade para outra.

(1) Reinaldo Azevedo