sábado, 3 de outubro de 2020

A Paixão Política e o Pragmatismo dos Políticos

 A rotina da prática política é extremamente racional e pragmática. O exercício do poder é construído com intensas negociações, convencimento e construção de relações de confiança.

Numa democracia, onde é preciso ter maiorias para aprovar leis e medidas orçamentárias, a política é feita com frieza e cálculo; com negociação e sedução; com comunicação e convencimento. Isso porque os representantes eleitos detém, cada um, uma parcela do poder popular, que é exercido através de maiorias construídas no dia a dia do exercício democrático. 

Mesmo nas ditaduras há exercício racional da política. Embora o poder político aqui não venha de representantes eleitos pelo povo, é necessário conquistar o apoio dos reais detentores do poder, que normalmente são a elite econômica, ou parte majoritária dela, e os militares.

Já a paixão política é um mal que acomete parcelas do povo. Ela tende a ser fulminante para o senso crítico do indivíduo, que passa a ouvir e ver apenas um pacote de slogans e mensagens habilmente manipuladas por políticos profissionais para arrebanhar o apoio dos apaixonados. 

A paixão política acomete com força arrebatadora tanto o analfabeto quanto o intelectual com pós doutorado, tanto o pobre trabalhador informal quanto o empresário bilionário. Então, esse mal, que se distribui tão democraticamente entre os cidadãos, os faz, invariavelmente e ser usados pelos espertalhões e a fazer papel de bobos. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Centrão - a Geni da Política brasileira?

Centrão é um termo que circula na Política brasileira desde a Constituinte de 1987 e serve para designar um bloco de poder no Congresso Nacional que, embora nunca tenha se tornado majoritário para se impor, chega muitas vezes a ter cerca de metade do parlamento. Definitivamente é grande o bastante para fazer o prato da balança do Poder Legislativo pender para a esquerda ou para a direita, conforme queira.

O que caracteriza essa enorme força política é a ausência de definições ideológicas claras, o perfil majoritariamente conservador nos costumes e a multiplicidade de interesses representados. Aí estão muitas das chamadas bancadas temáticas; bancada da Bíblia (evangélicos), bancada do Agronegócio (proprietários rurais) e bancada da bala, por exemplo, mas o fato indiscutível é que essa parcela importante do Parlamento Brasileiro representa uma parcela igualmente importante do eleitorado e como tal deve ser respeitada.

Ocorre que as eleições para Presidente da República têm eleito candidatos de Esquerda ou de Direita, não de Centro. Mas, paradoxalmente, para o Legislativo, as parcelas mais ideologizadas da sociedade, minoritárias tanto à esquerda quanto à direita, costumam eleger, cada lado, apenas cerca de um quarto dos parlamentares federais brasileiros, de modo que tanto a Esquerda quanto a Direita são incapazes de formar a base de sustentação parlamentar para os presidentes que elegem e precisam buscar alianças com o Centro. Tudo perfeitamente democrático e razoável.

Mas o que temos visto é que esses grupos mais ideologizados não se conformam em ter que compartilhar e ceder para formar as maiorias necessárias. Assim o chamado Centrão é aceito como um mal necessário apenas. É comum ver, ler e ouvir frequentemente o Centro ser apedrejado por políticos, artistas e jornalistas, tanto à esquerda quanto à direita, muitas vezes tratado como um antro de bandidos. O que esses críticos não percebem, ou percebem mas fingem que não, é o caráter profundamente antidemocrático dessas generalizações e desses linchamentos morais que promovem. Afinal o Centro representa cerca de metade dos brasileiros.








sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O empreendedor capitalista e o Imposto sobre heranças

 O empreendedor capitalista deve ser tratado como herói e ter todos os incentivos para crescer e prosperar, acumulando tantas riquezas quanto puder ao longo de sua vida.

O empreendedor bem sucedido é um tipo de pessoa que acumula em si um conjunto de qualidades raras e que trazem enorme benefício à sociedade. Dentre outas, se destacam a enorme energia, tenacidade, enorme capacidade de trabalho e de gerar riquezas. 

A sociedade se beneficia de seus esforços através dos empregos que ele gera, das inovações que patrocina e dos impostos que recolhe, de modo que é justo e socialmente aceitável que ele possa usufruir plenamente das riquezas que conseguir gerar.

O que se pode discutir com muita pertinência é quanto à justeza da transferência das riquezas acumuladas ao longo de uma vida a herdeiros passivos, isto é, que não contribuíram para a sua construção. Uma ideia que me parece socialmente justa é taxar a herança em níveis muito mais altos do que se faz hoje em dia no Brasil.

Eu apoiaria uma forma de taxação progressiva de modo que os herdeiros de grandes fortunas não fossem espoliados, mas também não acumulassem para si percentuais significativos da renda nacional apenas por serem filhos ou netos de gênios dos negócios. 


terça-feira, 11 de agosto de 2020

O mito do falso Profeta os autointitulados salvadores da pária no Brasil Atual

A Bíblia já nos fala há mais de 2000 anos do Falso-profeta, o enganador que promete a verdade e a salvação, mas só traz desgraças e a perdição eterna. Nós não aprendemos ainda a nos defender dessa figura nefasta.

Hoje em dia, no Brasil, uma parte da nossa elite do sistema jurídico-policial, com ambições de tomar o poder político e ser o governo do país, descobriu que pode usar o Poder do Estado para atingir seus objetivos. Fazem isso ABUSANDO do poder a eles delegados por seus cargos públicos e praticamente não correm nenhum risco, já que tem seus empregos vitalícios, cheios de vantagens, e são virtualmente indemissíveis. É notável, quando se olha as listas de parlamentares nas diversas Câmaras de Representação deste país, vemos um grande número de vereadores, deputados e senadores saídos das fileiras policiais (é cabo Fulano, Coronel Sicrano, Delgado Beltrano, Juiz Huguinho, Promotor Luizinho, que não acaba mais). Temos também inúmeros Governadores e Prefeitos vindos desse setor minúsculo da sociedade, numericamente falando. Não pode ser normal.

 Para isso usam várias estratégias, às vezes várias delas combinadas. Vejamos algumas:

1) O escândalo - Essa é a técnica levada ao auge pela Lava-jato. Prende uma dúzia de graúdos, vaza os detalhes picantes para a imprensa e espera a opinião pública assim envenenada começar a montar as forcas e as fogueiras na internet (se depois os processos não derem em nada e as pessoas forem INOCENTES, paciência, os que as destruíram não pagarão nada, jamais);

2) A eliminação de adversários - Virou moda, quando as eleições se aproximam, vários políticos começam a ser presos, com filmagem e ampla divulgação na TV. Poucos dias depois, já queimados politicamente, os caras são soltos e nunca mais se ouve falar do assunto que os levou presos, ou se volta a ouvir, brevemente de novo, nas próximas eleições;

3) Justiceiros em alta - Assombroso o número de políticos que antes de serem eleitos conquistaram fama e admiração pela violência. Os matadores notórios, os violentos e os que buscam a notoriedade na mídia, mesmo que seja atropelando os direitos dos cidadãos, são muito apreciados por parcela do eleitorado.

Tudo isso só é possível porque somos um eleitorado infantilizado, com uma necessidade patética de seguir heróis. Enquanto tivermos essa busca desesperada de salvadores para nos conduzir, não faltarão falsos-profetas querendo nos guiar.

terça-feira, 28 de julho de 2020

A Toupeira Ideológica

Um indivíduo que crê profundamente na Liderança de uma corrente política e se torna absolutamente impermeável à razão e aos argumentos, que renuncia à capacidade de analisar criticamente, de ver que há alternativas às suas verdades absolutas, que adere às ideias dessa Liderança política e espiritual - sim, a ligação se torna tão forte que parece ser também espiritual, além de política - mesmo quando não está de acordo com elas, somente para não ter que aceitar as alternativas oferecidas pelo "outro lado" (quando se chega a este ponto o mundo se divide entre "nosso lado" e o "outro lado"). Esse indivíduo jamais reconhecerá uma só falha do seu Líder, por maiores e mais absurdas sejam. Por outro lado, a todos os que forem considerados "do outro lado" só restarão desqualificação, críticas e acusações, ainda que infundadas, nunca algum reconhecimento. 
Esse indivíduo acha perfeitamente legítimo e defende tenazmente o uso abusivo de instrumentos de Estado para favorecer o seu grupo e perseguir os adversários, mas reage com a ira dos puros e imaculados quando a roda gira e os papéis se invertem.
Esse fenômeno de adesão cega às ideias, e muito especialmente quando essas ideias são personificadas numa Liderança Política, é muito intrigante porque quando se olha o indivíduo afetado por ele não se nota nada estranho à primeira vista. São pessoas de todas as classes sociais, de todos os níveis de educação, de todas as cores, de todas as religiões. Intelectuais de alto gabarito, médicos, engenheiros, policiais, militares, líderes religiosos, empresários, trabalhadores humildes, pacatas e serenas donas de casa. Tão casual que há rivalidades intransponíveis dentro de famílias, quando irmãos são igualmente afetados, mas pelos lados opostos.
Em 2020, no auge da pandemia de Covid-19 no Brasil, o indivíduo acima se personifica no chamado gado Bolsominion (claro que quem o chama assim está do "outro lado"). Quer a retomada imediata das atividades econômicas, o uso intensivo de cloroquina para combater a doença, a queda do STF e do Congresso Nacional, a liberação das atividades de madeireiros e garimpeiros na amazônia, a liberação da matança pela Polícia, a liberação do comércio de armas e a demonização da imprensa, tudo como aponta seu Mito.
Mas eu já vi o fenômeno antes, com sinal trocado. Estudava na USP durante o governo Dilma. Lá observava desde professores-doutores altamente intelectualizados, passando por funcionários até chegar aos alunos ingressantes o mesmo que observava no meu trabalho, nos grupos sociais do meu convívio, na imprensa e nas artes. A intolerância com qualquer questionamento ao ideário do PT e a Lula. A desqualificação da imprensa que expunha as mazelas da administração petista, a tentativa de radicalizar o avanço de pautas a que resiste a sociedade brasileira, o grito ofendido de se dizer vítima perseguição a cada descoberta de um novo crime.
Então, sendo esse fenômeno que afeta tão duramente as pessoas na sua persona política, levando à radicalização ideológica tão comum e atingindo gente de todos os espectros da sociedade, levando uns cegamente para um extremo e outros para o outro, poderíamos chamá-lo Síndrome da Toupeira Ideológica.

domingo, 10 de maio de 2020

A boquinha: da extrema esquerda à extrema direita, todos a querem

Numa trajetória já longa de leitor atento e observador da conjuntura brasileira, uma característica dos nossos homens e mulheres públicas, tanto eleitos quanto concursados, se me torna vergonhosamente evidente. Invariavelmente querem se dar bem, ter uma vantagem, se arrumar, botar o burro na sombra, à custa dos pagadores de impostos. Não bastam as estabilidades dos empregos e as aposentadorias integrais, querem sempre mais, de modo que o parasitismo do Estado é uma característica que, enquanto não for enfrentada para valer, não nos deixará nunca a nos tornar uma sociedade justa e desenvolvida.
- Ah, mas não são todos!
- Ok, o fato de haver exceções não invalida o raciocínio acima porque, para todos os efeitos, é uma característica dominante, que atropela e cala, até os tempos atuais, as poucas vozes dissonantes.
Vejamos alguns breves exemplos que me veem à memória, para ilustrar o que estou a dizer:
Em Outubro de 1999 Anthony Garotinho, então Governador do Rio de Janeiro, cuja Vice-governadora, Benedita da Silva, pertencia ao PT, reclamou que este deveria mudar o nome para "Partido da Boquinha" (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2310199908.htm). "Eles têm mais de 200 cargos no meu governo e estão querendo mais". Os Petistas, que àquela altura estavam há duas décadas construindo e cultivando cuidadosamente uma imagem de Partido diferente de "tudo isso que está aí", com seus parlamentares abrindo CPI a torto e à direita, verdadeiros Anjos Vingadores dos despossuídos brasileiros, após as declarações de Garotinho, subiam pelas paredes, rasgavam as vestes , viravam os olhos e espumavam da mais doída indignação, da mais pungente revolta contra seu parceiro tornado rival... Três anos depois Lula foi eleito Presidente da República, o petismo e seus aliados, que iam da extrema esquerda até o Centrão, trataram logo de abocanhar cada um seu naco de carne e ser feliz. Acabaram exagerando e sendo desembarcados do poder, mas só após quatro eleições consecutivas. Assim, não há dúvidas de que Garotinho tinha toda razão quando afirmou o que afirmou, lá atrás.
Saindo do contexto partidário, vemos a elite do nosso funcionalismo, com suas vantagens, seus penduricalhos e seus privilégios. Pouco importa a condição do país, seus "direitos" têm sempre prioridade. Sempre é tempo de se autoconcederem um agrado tungado da cidadania. Agora mesmo, todos os milhões de brasileiros que estão fora do serviço público, autônomos, empregados formais, informais, desempregados, empresários, artistas, esportistas, todos estão sofrendo prejuízos e passando apertos financeiros em função da Pandemia de Corona vírus, que gera paralisação, desemprego e desesperança. Mas os funcionários públicos, atrás de sua estabilidade e salário garantidos, exigem ter aumento, querem achar uma brecha para enfiar um Auxílio Saúde qualquer (https://www.conjur.com.br/2020-mai-06/mp-mt-institui-ajuda-custo-membros-durante-epidemia). Enfim, não largam o osso.
Ao longo da vida profissional tive oportunidade de lidar com militares, várias patentes, de Sargento a Coronel. E sempre, desde o início, para minha decepção, que antes os admirava tanto que até pensei na juventude em me tornar um deles, percebi, em quase todos, como um traço cultural mesmo, de forma mais ou menos disfarçada, a busca pela boquinha, desde o simples almoço grátis, passando pela extensão desnecessária da missão de um dia para uma semana para embolsar as diárias, a transferência de posto arranjada a pedido, para embolsar o auxílio mudança (dá para trocar de carro com isso), dentre outras  coisinhas feias. Tudo isso me leva a observar com extremo desgosto e nenhuma surpresa, porque é só mais do mesmo que já vi antes, um bando de generais e outros altos oficiais aposentados disputando a tapa uma boquinha no governo de um ex-capitão indisciplinado. Aliados à extrema-direita mais autoritária e reacionária. Não se importam se isso suja a imagem de suas instituições, se correm o risco de sofrer alguma humilhação (vários já sofreram). Tudo o que querem é dobrar ou triplicar a renda, somando salários aos gordos proventos de aposentados.
A conclusão a que chego é essa: de A a Z, todos vêem o Estado como uma enorme teta que deve ser mamada, quanto mais, melhor. Enquanto o pagador de impostos não se cansar e der um basta nesse parasitismo, passará a vida assim, trabalhando duro para alimentar um Estado insaciável.

sábado, 2 de maio de 2020

A radicalização da Política e a morte

A experiência de escrever num blog se mostra muito interessante porque a gente consegue resgatar as próprias ideias tempos depois e verificar se o que pensávamos antes ainda faz sentido ou não.

No dia 01 de Julho de 2017 eu escrevi três pequenos textos (aqui 1aqui 2 e aqui 3) descrevendo o agente político radical, a sua importância para forçar o surgimento de inovações nas sociedades, por seu inconformismo e sua atitude disruptiva, mas mostrando, por outro lado, o perigo que ele representa, na medida em que a disrupção que ele sempre busca pode sair de controle e causar enormes danos, incluindo banhos de sangue, dos quais a História esta cheia de exemplos.

Revendo esses textos após três anos, vejo que continuo acreditando nas mesmas ideias e constatando que nos dias atuais correntes radicalizadas estão, se não ainda no controle, exercendo grande influência  na política internacional, notadamente, partindo do mais próximo para o mais distante, no Brasil, nos EUA, no Reino Unido, na Italia, na Hungria, dentre outros.

O que se vê, então, é que há uma onda internacional crescente de insatisfação e radicalização, que já avançou bastante em alguns países. Se trata então de um fenômeno social internacional, mas não global, porque não afeta de modo igual todos os países. A crise pandêmica (que atinge o mundo todo) que vivemos oferece uma boa oportunidade de observar esse fenômeno na prática.

O comportamento radical, anti-institucional e anti-establishment, tem mostrado sua cara de modo bastante didático nessa pandemia e as sociedades onde essas tendências radicais estão mais influentes e poderosas, como as dos países nomeados acima, tem pago um alto preço em mortes de cidadãos. Mortes na maioria das vezes evitáveis, como mostram os resultados perfeitamente comparáveis alcançados pelos governos moderados, que aceitam o conhecimento científico e as recomendações dos estudiosos e tomam as medidas necessárias para proteger seus cidadãos.

Historicamente as sociedades sempre voltam para o equilíbrio, para a moderação, abandonando ou expulsando seus radicais do poder. A questão, sempre, é saber quantos corpos são necessários para aplacar a fúria e restabelecer o comando da moderação.

domingo, 26 de abril de 2020

O político em cada um de nós 2

Tendo estabelecido que a política é o caminho para o convívio em sociedade e que, portanto, políticos são parte indispensável desse convívio, queiramos ou não, façamos então uma reflexão sobre eles e sobre as razões porque as pessoas na verdade não deveriam se sentir enganadas por seus representantes, os políticos.

Político é todo aquele que quer liderar, quer tomar a frente nas decisões ou pelo menos influenciar nelas. Nesse sentido, vemos que muita gente tem essas tendências. Numa democracia representativa como a brasileira, as vontades dos eleitores (dos eleitores, porque a população em geral tem muitas vontades, mas só os eleitores elegem quem tomará as decisões) vão se juntando nas eleições de vereadores e prefeitos nas cidades, de deputados estaduais e governadores nos estados, e de deputados federais, senadores e presidente da república.

Assim, todos os nossos políticos eleitos são nossos representantes legítimos porque nós os elegemos. "Não me representam porque eu anulei meu voto", "não me representam porque meu candidato perdeu". Lembre-se do condomínio no meu post anterior, se você não comparecer à assembleia ou for voto vencido, ainda assim terá que aceitar a decisão da maioria, são as regras do jogo.

Agora, numa democracia quem quer ser eleito e tomar as decisões pela sociedade tem, portanto, que conquistar votos. A conquista de votos é conseguida pelos candidatos que apresentam propostas mais atraentes ou que representem as vontades de mais eleitores. O que se faz para conquistar os votos dos eleitores,entretanto, é que pode ser fonte de muitos problemas. Vejamos nos próximos parágrafos:

Para convencer o maior número possível de eleitores um candidato tem que comunicar bem as suas ideias. Para isso usará sua própria capacidade de comunicação e seu carisma para atrair a atenção dos eleitores para suas ideias, mas precisará também usar de muita propaganda para atingir milhares ou milhões de eleitores, conforme o cargo a que concorrerá. Propaganda custa dinheiro. Financiamento de campanhas eleitorais é um desafio em todas as democracias do mundo, porque nem todos os candidatos jogam limpo e  há sempre o risco do uso de recursos ilegais. Muitas vezes oriundos de grossa corrupção contra os cofres públicos mas também financiamentos ilegais que alteram o equilíbrio do jogo político, pesando mais o prato da balança a favor de certos grupos econômicos.

Além da possibilidade de fraudes no financiamento das eleições, outro risco que o eleitor corre e para o qual precisa estar atento é o de comprar gato por lebre, isto é, o candidato lhe vender um conjunto de ideias e de propostas feito exclusivamente para conquistar o seu voto, quando na verdade seus objetivos e crenças são outros. Esse é o chamado estelionato eleitoral.

Concluindo, a disputa eleitoral é dura porque todos os candidatos querem ganhar a atenção e a confiança dos eleitores e nessas horas os maus podem acabar sendo beneficiados justamente pelos vícios do processo - e é aqui que o eleitor maduro, que superou a fase infantil da dicotomia, do bonzinho versus o mauzinho, se diferencia da massa manobrável por políticos desonestos - porque eles não se acanham de mentir, de fazer falsas promessas, nem de usar dinheiro sujo.
O eleitor maduro tem, assim, um olhar crítico sobre todos os políticos, evitando a armadilha do apoio incondicional a qualquer um, sabendo que todos eles tem interesses e querem o poder de influenciar e decidir os destinos da sociedade.






quinta-feira, 23 de abril de 2020

O político em cada um de nós

Muitas pessoas dizem que não gostam de Política, que não entendem a Política e que não precisam de Política. Bom, nós podemos não gostar e podemos não entender a Política, mas não podemos prescindir dela. Demonstrar isso é o objetivo desse texto.

Nós humanos somos seres gregários, só conseguimos viver em grupos. O grupo mais básico e fundamental da sociedade é a família. Nesse grupo essencial há geralmente uma autoridade, o pai ou a mãe, que toma as decisões nos assuntos de interesse do coletivo, podendo dar mais ou menos espaço para a participação de outros membros da família na formação dessas decisões. Assim, cada membro toma as decisões sobre seus assuntos particulares no dia a dia, mas o chefe ou representante é que dá a palavra final nos assuntos do coletivo.

Expandindo o grupo, temos a agregação de várias famílias formando uma comunidade. Aqui podemos ter uma pequena aldeia ou uma vila, mas quero pegar o exemplo de um condomínio. Várias famílias habitam num espaço delimitado, que contém áreas individuais de cada família e áreas de uso comum. As relações políticas aqui já são intensas. Tanto dentro de cada família, quanto a relação entre as famílias na comunidade do condomínio. Vamos ver:

Os assuntos de interesse coletivo dessa pequena comunidade precisam ser tocados de alguma maneira. Por mais inovadora que ela seja, logo ficará claro que se não se organizarem e delegarem a alguém a responsabilidade de cuidar dos pequenos reparos que se façam necessários, pagar as contas dos serviços públicos, cuidar da limpeza das áreas comuns, o caos se instalará e a convivência naquele espaço se inviabilizará ou se tornará muito difícil.

Então o que faz o condomínio? Convoca uma assembleia onde um representante de cada família vota (Poder Legislativo) para designar um Síndico (Poder Executivo) que ficará responsável pela administração do dia a dia do condomínio dentro de um limite orçamentário e regras estabelecidas pela assembleia. Então, nesse ambiente a política está presente desde o início e é indispensável para resolver os problemas da coletividade.

Desse modo, gostando ou não gostando, entendendo ou não entendendo de Política, não se pode prescindir dela para possibilitar a vida em sociedade.Claro que no nosso exemplo do condomínio a proximidade e o controle exercido pelos condôminos (cidadãos) é muito mais próximo e efetivo.

Numa comunidade ampliada, como uma cidade, um estado e um país, a complexidade da administração é cada vez maior, em comparação com o nosso condomínio. Aqui a Política tende a se profissionalizar e a capacidade de controle dos cidadãos vai ficando cada vez mais indireta e distante, mas os fundamentos são os mesmos e a Política é mais indispensável do que nunca.

Lembre-se, esbravejar que Político não presta e que a política é um ninho de ladrões só expõe o quão pobre é o seu entendimento da vida em comunidade. Se você não participa e não quer entender quem são os candidatos a representar você na Prefeitura ou no Senado, por exemplo, saiba que outros se interessarão e participarão e elegerão aqueles que melhor representem os interesses deles, os que se interessam e participam. Igualzinho ao que acontece no seu condomínio.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Nossa Política - A arte de ganhar no grito

O debate político no Brasil tem sido primitivo ao longo do tempo, independente da coloração partidária que esteja no poder. Invariavelmente, ao invés de debate, o que se tem é a firme disposição de calar o outro lado, eliminar o contraditório.
Nos primeiros treze anos desse século tivemos o PT no poder federal e em muitas instâncias subnacionais. O Petismo parecia mais eterno que os diamantes (1). Nesse período o debate só fluía entre os diferentes tons de cinza do chamado Campo Progressista. Qualquer coisa que saísse do espectro ideológico das esquerdas era imediatamente vetado, sabotado, rotulado, vide os inúmeros casos de debates cancelados na marra . Uma rápida busca na internet nos mostrará workshops e palestras sendo cancelados no grito, autores convidados sendo "desconvidados" por pressão de grupos ativistas de esquerda. Quem não se lembra da blogueira Cubana dissidente Yoani Sánchez, que veio ao Brasil em 2013 e sofreu o diabo nas mãos das nossas esquerdas, sendo perseguida em aviões e onde quer que ousasse pisar.
Nesse cenário parecia até que não havia pensamento divergente da onda dominante de esquerda no Brasil. Nas Universidades, nas artes, na imprensa e na intelectualidade em geral só se via e só se ouvia o que era aceitável no espírito dessa onda.
Agora, a partir das jornadas populares de 2013, turbinadas pela Lava Jato e seu projeto de poder, vivemos exatamente a mesma situação, só que em sentido oposto. O reacionarismo mais tacanho, as concepções de mundo mais primárias e o autoritarismo mais ostensivo, com a mesma intolerância ao outro, as mesmas táticas da rotulagem, da calúnia, da difamação e do esmagamento.
Conclusão, ainda estamos num estágio de maturidade do nosso debate político onde impera a ignorância e a truculência. Não há a menor disposição para a composição, para a convergência negociada, para a aceitação da legitimidade do outro. Só temos a ânsia de calar, de interditar o debate e de impor a nossa visão de mundo. Qualquer divergência é imediatamente taxada de comunista ou de esquerdinha mi-mi-mi e o debate acaba. E assim seguimos aos trancos e barrancos, de uma obscuridade para outra.

(1) Reinaldo Azevedo