A força-tarefa da lava-jato conseguiu construir uma narrativa em que
aparece como a grande novidade para salvar o Brasil de si mesmo e acabar
definitivamente com a impunidade dos poderosos. Essa onda moralizadora encanta
a maior parte da imprensa e um sem número de cidadãos, de modo que a
força-tarefa goza de influência enorme na opinião pública.
Esse apoio grande da sociedade, que a princípio parecia uma garantia de
sucesso para a operação, à medida que a blindou de reações dos poderosos
atingidos pelas denúncias, acabou se transformando em instrumento para o
atingimento de objetivos políticos e ilegítimos.
Exemplos: agora a força-tarefa quer ditar que legislação o Congresso
pode ou não pode aprovar, quer que aceitemos pacificamente abusos evidentes de
autoridade como instrumentos legítimos de investigação, critica abertamente
decisões de tribunais superiores que contrariem seus postulados.
Ora, o Judiciário e o Ministério Público tem poder político inegável,
mas juízes e promotores não tem legitimidade - pela simples razão de que nenhum
deles recebeu um mísero voto de um único cidadão - para sair impondo decisões
ao Legislativo ou ao Executivo, a menos que decorrentes de processos legais
devidamente tramitados.
Nossa classe política está sendo rapidamente dizimada por um grupo de
funcionários concursados que se auto designou para a missão de fazer a
revolução neste país. E o pior é que a tarefa está sendo facilitada pelos
próprios políticos.
Ao invés de se unirem para enfrentar a fúria dos sem votos que querem impor
suas convicções na base do grito e do abuso de autoridade, os políticos não
entendem a natureza do jogo, se dividem e fazem o possível para fragilizar seus
adversários atacados, de maneira que as vítimas são abatidas numa velocidade e
com uma facilidade inacreditável.
Mais cedo ou mais tarde a classe política terá que
compreender que suas facções podem e devem manter as divergências em tudo que
diga respeito ao jogo político da disputa pelo poder, mas devem se unir
fortemente quando se tratar de defender suas instituições e suas prerrogativas.
Ou será extinta com todo merecimento.