segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Vácuo de poder - Democracia em risco 3

Uma pesquisa mais aprofundada é necessária para explicar na totalidade a penúria moral e o desprestígio do nosso Parlamento Federal, mas as esquerdas e a nossa elite cultural certamente respondem pelo grosso da situação. Como? Explico já:
A esquerda jamais conseguiu eleger maioria no Congresso Nacional, de modo que ela só consegue aprovar projetos importantes, que exijam maioria qualificada, se compondo com outras forças políticas, o que acaba por forçar a atenuação de suas propostas. Ela frequentemente consegue impor suas ideias ou torná-las mais palatáveis usando o apoio maciço de chamada intelligentsia (majoritariamente esquerdista) para ganhar a opinião pública - é frequente vermos grupos de artistas assinando manifestos progressistas, jornalistas demonizando grupos de parlamentares, descolados defendendo o aborto e a descriminalização das drogas, contra o aprisionamento de criminosos, de modo que o cidadão que tem ideias genuinamente conservadoras é levado a se crer um tosco atrasado, já que tanta gente "bacana" pensa o oposto dele - ou pelo menos constrangê-la a se calar.
Outro fator de desprestígio e desmoralização do Parlamento é um certo déficit democrático de nossos parlamentares. É comum deputados ou senadores, muito especialmente de esquerda, se insurgirem contra derrotas no voto e apelarem para o Judiciário contra as decisões democráticas do Congresso, o que no futebol seria chamado de tapetão. Os Conselhos de Ética deveriam por um fim na farra, afinal um parlamentar incapaz de aceitar a decisão da maioria é indigno de fazer parte do Parlamento. 
Como inexiste vácuo de poder, ao enfraquecimento do Legislativo e do Executivo (atualmente demonizado por boia parte da cultural do país) se alevantam as ambições de juízes, procuradores, policiais e outros oportunistas, capazes de ganhar com a desordem e a desesperança do país.

domingo, 19 de novembro de 2017

Vácuo de poder - Democracia em risco 2

Então, vindo do contexto descrito no post anterior, temos no cenário político atual, amplos setores do MPF, da PF e do Judiciário, resolveram lançar-se numa verdadeira cruzada moralista, com uso intensivo do abuso de autoridade, através de prisões decretadas ao arrepio da lei ou do alargamento forçado dos limites do Código Penal, “vazamentos” para a imprensa de nomes de pessoas e empresas, sob acusações cabeludas, em inquéritos ainda em investigação, dentre ouros. Tudo isso possibilitado por um lado pelo histórico de práticas de corrupção e desvios no mundo político como pano de fundo e por outro, contando com o apoio entusiasmado de boa parte da elite cultural para conquistar o apoio da opinião pública.
A sucessão de escândalos fragilizou sobremaneira a representação política e os burocratas tentam avançar cada dia mais, tomando para si fatias cada vez maiores de poder. Já não se contentam apenas com os privilégios indecentes de verdadeira aristocracia arrogante vivendo à custa do povo, como toda aristocracia, querem tomar o poder político.

A cidadania brasileira tem que perceber que sua elite cultural a despreza e sua burocracia pública vive para si mesma e é insaciável. Só a cidadania pode se defender, se for capaz de entender o que se passa e tomar de volta para si o poder político que tentam usurpar-lhe. 

Vácuo de poder - Democracia em risco 1

Neste final de 2017, observando a cena política brasileira em sentido amplo, que envolve todo o sistema de poder político, vemos um quadro extremamente deteriorado e perigoso para o futuro da nossa democracia.
Enquanto encontramos os poderes Legislativo e Executivo encurralados, apanhando intensamente de todos os lados, vemos amplos setores do poder judiciário, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal a ocupar cada vez mais o espaço de poder deixado pelos políticos eleitos, os únicos que tem legitimidade para falar em nome do povo. O que acontece?
Algumas variáveis se combinaram para nos trazer ao atual estado de coisas. Primeiramente foi a ascensão do pensamento de esquerda ao centro do poder político, com a eleição de Lula e a manutenção do PT no poder por três mandatos presidenciais e meio. Nesse período, além da administração desastrada, que conduziu o país ao caos na Economia, a esquerda acabou por atingir a elite da Burocracia pública, com as nomeações de esquerdistas para os tribunais superiores, para a chefia do MPF, da PF e demais posições importantes da administração federal.
Assim, finalmente tivemos a ascensão, após uma longa e silenciosa caminhada que remonta aos anos 60 do século passado, do pensamento de esquerda, que é essencialmente autoritário e propenso a atropelar os freios e contrapesos do Estado Democrático de Direito, ao topo das elites no serviço público, no jornalismo, nas artes, enfim, na intelligentsia brasileira.
Ocorre que o grosso da população brasileira, as chamadas classes populares, é conservadora e instintiva e vagamente adepta aos valores da tradição judaico-cristã, especialmente nos costumes. Isso nos leva a ter uma sociedade dividida. De um lado temos uma elite numericamente minoritária, mas muito influente no dia a dia da vida do país, e do outro lado a grande massa da população, inexpressiva e pouco influente na imprensa e nos espetáculos, mas invencível nas urnas.

Desse modo a nossa representação política reflete, apesar de todo desgosto da nossa elite cultural, uma forte tendência conservadora, refletindo mais ou menos o perfil da média da cidadania brasileira. Aí nossa “elite cultural” - que sonha com uma sociedade comandada por gente como Marina Silva, Marcelo Freixo, Jean Wyllys, Luciana Genro, Randolfe Rodrigues, Alessandro Molon, etc, etc -, sentindo-se muito superior ao resto da população e muito capaz de decidir os destinos da nação, se revolta com o voto do povo e começa a escarnecer, desqualificar, caluniar e rotular os representantes eleitos fora do campo das esquerdas. Se o político tem alguma ligação com o agronegócio, só pode ser um escravista, desmatador, grileiro, resumindo: bancada ruralista, sinônimo de atraso e exploração do trabalhador e do meio ambiente; se tem alguma posição forte no campo da segurança pública, só pode ser pelo “genocídio” de pretos pobres nas periferias, pela violência policial, ou seja: bancada da bala; rejeitar o aborto, a liberação das drogas, dentre outras bandeiras dos descolados, só pode ser para a gente esquisita da bancada da Bíblia.

domingo, 12 de novembro de 2017

Eleição presidencial de 2018 - Exercício Mãe Dinah

Este exercício servirá para avaliar daqui a um ano o grau de clareza com que estou vendo o cenário político hoje.
Rodrigo Janot e cia conseguiram jogar a elite política do país na vala comum onde deveriam estar o PT e seus parceiros, que governaram o país sem alternância por três mandatos e meio. Ao tratar o caixa dois de campanha, uma velha e lamentável prática de nosso mundo político - mas de impacto muito menor na vida institucional do país -, com a roubalheira generalizada na Petrobrás e outras estatais, introduzida e administrada para a perpetuação do PT no poder, Janot e seus apoiadores conseguiram nivelar todo mundo por baixo.
Assim, hoje, a um ano das eleições de 2018, o cenário está bem esfumaçado, dá para ver alguns vultos se movendo na névoa densa, mas não se pode ainda reconhecê-las nem dizer a direção que seguem.
As pesquisas publicadas recentemente mostram que Lula seria eleito, se a eleição fosse hoje. Mesmo considerando-se que ele muito provavelmente estará inelegível na ocasião, parece que ele seria um eleitor importante, com seu substituto tendo grande chance de ir ao segundo turno. Assim o campo de Centro para esquerda tende a estar fechado com Lula, mesmo considerando a existência de alguma candidatura adicional, de potencial eleitoral muito menor.
Quando tentamos divisar alguma coisa do centro para a direita é que vemos a confusão, a desordem, a covardia, o oportunismo e a cegueira política.
O PMDB, partido gigante e historicamente diverso em sua composição ideológica, comportando desde esquerdistas empedernidos a liberais puro sangue, comporta também gente das práticas políticas e éticas mais diversas. Esse partido, embora tenha sido desde sempre e especialmente durante os governos petistas, um esteio da democracia (preciso explicar isso melhor em outra ocasião), é visto pela nossa intelligentsia (dominada pela esquerda de butique) como o celeiro de todos os males de nossa política. Nunca conseguiu emplacar um candidato forte. como será na próxima eleição?
O PSDB se deixou destruir passivamente. A desunião, a covardia pusilânime e o oportunismo afloraram muito rapidamente quando começou a levar os primeiros tiros da guerrilha pseudo-moralizante do PGR e o partido, que foi o maior vitorioso nas últimas eleições municipais, de forma revoltante se deixou cair no mais absoluto caos. Hoje o PSDB parece incapaz de se apresentar como alternativa viável de poder.
O resto das legendas do espectro centro-direita poderá aparecer unificado em torno de algum nome forte que surja ou fragmentado em duas ou mais candidaturas.
O que temos hoje? Bolsonaro, Alckmin, Meirelles, Huck. Esses são os nomes que circulam atualmente. Algum deles será viável? A ver, mas não creio em nenhum. A menos que Alckmin consiga o milagre de unificar seu partido.
Um político a quem pouca gente parece estar prestando atenção é Michel Temer. Ele resistiu bravamente às tentativas de deposição e certamente ganhou o respeito de muitos. Mostrou uma competência política extraordinária.Tem feito reformas importantes e os resultados começam a surgir na Economia. Todas as previsões mostram um bom crescimento econômico no próximo ano. Economia aquecida se traduz em votos a quem está no poder. Eu não o descarto como candidato forte, dependendo de quanto ele consiga reverter de sua impopularidade e do grau de confusão entre os outros concorrentes.
Temer pode ainda ser o grande articulador de uma candidatura de centro-direita. O PSDB, como partido, já praticamente se retirou da possibilidade dessa aliança com o presidente, que seria muito natural, mas não acho de todo improvável que haja uma revoada de tucanos de volta ao velho lar. Muitos líderes históricos do partido tem sido tratados a chutes e pontapés pelos cabeças pretas e ocas.
A minha aposta, então, é que a candidatura mais forte para enfrentar Lula será a de Temer ou apoiada por ele. Vamos ver.