quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A temporada dos Lobos

Aparentemente está aberta a temporada dos lobos. E ela poderá ser duradoura!

A observação atenta dos fenômenos que estão nos levando a essa realidade revela duas coisas. Há alguns lobos nessa pradaria e, como sempre, inúmeras e inúmeras ovelhas. Ocorre que muitas ovelhas, ouvindo o uivo sedutor dos lobos, passaram a acreditar que também são lobos e se uniram a eles. Daí, lobos e ovelhas "convertidas" (lobos-novos) estão a um passo de dominar a pradaria.

Como a situação tenderá a evoluir, se a tomada da pradaria se concretizar? Bem, os lobos genuínos se fartarão de comer ovelhas. Será um banquete! Os lobos-novos (ovelhas convertidas em lobos) também comerão muitas de suas irmãs, completando a tragédia.

Em algum momento, entretanto, os lobos-novos serão despertados de seu torpor, não pela sua parca inteligência, mas pela sua própria Biologia. Eles, afinal, são herbívoros ruminantes, não estão preparados para comer ovelhas, mas capim e alfafa.

Quando perceberem que estão comendo suas irmãs ovelhas, levados pela sua natural e instintiva rejeição ao sangue e à violência, os lobos-novos quererão voltar à sua condição natural e se juntar ao rebanho das ovelhas. Mas não será fácil.

Os lobos genuínos, ao verem seus neo-aliados a ponto de se evadirem, pondo em risco seu reinado de refeições fartas e fáceis, farão o que sabem fazer de melhor para serem persuasivos. Serão violentos. Mais banho de sangue.

A ver.

De qualquer modo, haja o que houver, as ovelhas escolherão seu próprio destino. Não reclamem depois, quando o lobo estiver à porta.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A desamparada Democracia brasileira

Nossa breve democracia está à beira da morte e pouquíssimos brasileiros demonstram algum pesar, lamentavelmente. O que acontece? Como chegamos até aqui?
Bom, não se pode dizer que a democracia está no DNA da nação brasileira, a triste verdade é que o valor da democracia parece que nunca ficou evidente para o nosso povo. Desde a fundação dessa República, através de um golpe de estado, há 129 anos, até hoje, nós fomos governados por longos períodos de regimes autoritários intercalados por breves hiatos democráticos. Cada um deles interrompido pela força, sempre que houve um impasse político mais forte. Dessa vez, se realmente acontecer, não será pela força, mas pelo abandono puro e simples dos princípios democráticos pela maioria dos eleitores.
O atual período democrático que vivemos sucedeu uma ditadura militar que se estabeleceu a partir de 1964, com forte apoio de setores conservadores da sociedade, como reação à escalada das esquerdas, que vinham crescendo no mundo inteiro, no contexto da guerra fria, e já tendo inclusive instalado uma ditadura comunista em Cuba. De modo, então, que um regime autoritário de direita foi implantado para prevenir a ascensão de um regime autoritário de esquerda. Democrata convicto aí, se havia algum, não conseguiu deixar rastros na História.
Após a redemocratização, tivemos um retorno crescente da esquerda ao protagonismo político brasileiro, culminando com a ascensão do PT à Presidência em 2002. Uma vez instalada no poder a esquerda tratou logo de tomar as providências para não sair mais de lá. E o fez não usando a força, porque não era possível, mas subvertendo a democracia pela compra de apoio político com dinheiro roubado das estatais, muito especialmente da Petrobrás, para aprovar as medidas e mudanças constitucionais que queria. Essa perpetuação da esquerda no poder não foi possível por dois motivos principais: por um lado uma parte da base de apoio, especialmente o PMDB, desconfiava das intenções dos petistas e esquerdistas em geral e barrava as mudanças constitucionais que atingiam mais fortemente os fundamentos do estado democrático, pelo outro lado, a deterioração da economia nacional, causada pelas políticas governamentais petistas, precipitaram a queda de Dilma Roussef pouco depois de ter sido reeleita.
A queda de Dilma foi precipitada pela recessão econômica e pela efervescência política que levou milhões de pessoas às ruas para protestar contra seu governo. Ocorre que dessa efervescência emergiu rapidamente o outro lado da alma autoritária brasileira, uma cara raivosa e vingativa, de caráter fascistoide e auto-conclamado perfil de extrema-direita. Essa massa movida pela raiva e pela vingança está pronta para agir, linchar e atropelar, mesmo que com isso ela própria seja sacrificada, como provou a recente greve dos caminhoneiros, que teve amplo apoio de suas vítimas.
Assim, uma vez mais, num contexto internacional que mostra a democracia sendo fortemente questionada em várias partes do mundo, nós, com nossos autoritários à esquerda e à direita muito perto de formar a maioria necessária para tirar os poucos democratas restantes do jogo político, estamos à beira de mais um período sob regime ditatorial. Uma pena

domingo, 9 de setembro de 2018

Imprensa patética

Nossa imprensa é majoritariamente esquerdista. Adora incondicionalmente todos os discursos "progressistas" e adora igualmente demonizar e ridicularizar os seus leitores, ouvintes e telespectadores conservadores e liberais.
Ela está muito mal acostumada. Durante décadas, qualquer político ou personalidade que ousasse defender uma ideia minimamente contrária aos dogmas "progressistas" era logo confrontado com o vitimismo do politicamente correto e o enquadramento logo se dava porque ninguém parecia saber resistir ou ter a coragem de fazê-lo.
Nesse sentido, embora eu discorde frontalmente de suas ideias, o surgimento de Jair Bolsonaro como candidato viável à presidência da república tem sido bastante útil do ponto de vista didático. Ele mostra que nossa imprensa é patética e incapaz de um diálogo minimamente civilizado e útil para o público com alguém de fora de seu mundinho ideológico. As entrevistas dele ao Roda Viva, à Globo News e ao Jornal Nacional foram oportunidades extremamente eloquentes para expor a fragilidade intelectual de nossos mais renomados jornalistas.
Embora repitam o discurso da tolerância, da inclusão e do respeito ao contraditório, nossos patéticos homens e mulheres de imprensa foram incapazes de formular questões úteis até para expor as fragilidades e contradições do candidato. Não, todos, sem exceção, optaram cegamente por se agarrar a questões referentes às bandeiras "progressistas" (ditadura, aborto, desarmamento, uso da força na segurança pública...), áreas que formam a base do discurso do candidato, proporcionando palanques formidáveis onde ele parecia todo seguro de si e nossos pobres-ricos jornalistas pareciam apenas, mais uma vez, patéticos.

Sobre as eleições presidencias daqui a menos de um mês

Pronto! Mais um evento para tumultuar o já tempestuoso ambiente político brasileiro. No momento em que escrevo este texto, Jair Bolsonaro, líder de fato das pesquisas eleitorais para a presidência (líder de fato porque o líder numérico, Lula, está preso e é inelegível), está internado na UTI do Hospital A. Einstein, em São Paulo, se recuperando de um ataque à faca que recebeu em Juiz de Fora na última quinta-feira.
Que decisão o eleitorado brasileiro tomará para o seu próprio futuro na eleição que se aproxima?
O ambiente da política nacional está confuso e imprevisível a mais não poder. As condições para a tomada de decisão de voto de modo racional e fundamentado, praticamente inexistem. O eleitor seguirá seus instintos e suas emoções, baseado em percepções e fragmentos de informações, como, afinal, sempre ocorre, na maioria dos casos.
Após três mandatos e meio do PT na presidência da república, onde a retórica divisionista de "nós contra eles" foi preponderante, temos um país muito dividido e de extremos aparentemente irreconciliáveis. Assim, o cardápio de opções do eleitorado, apesar dos muitos candidatos, é bastante limitado, vejamos:
O campo à esquerda tem os extremistas sem voto mas muita retórica comunista e autoritária, que acabam por lhes dar influência desproporcional, especialmente na imprensa e nas artes. Esses, pela pouca relevância eleitoral acabarão, como sempre, atraídos pelo centro de gravidades petista, compondo um blocão de esquerda. Teoricamente, e as últimas eleições tem confirmado isso, esse campo contará com cerca de 30% dos votos válidos ou um pouco menos, o que é suficiente para ir ao segundo turno, quando, então, terá que conquistar muitos votos do centro para se eleger.
À direita temos dois blocos, o tradicionalmente enorme bloco da centro-direita se dividiu e agora temos uma extrema-direita, vamos chamar assim por não me ocorrer termo melhor no momento, embora o ache impróprio, e o centro-direita.
As ideias ultra-conservadoras e ultra-liberais jamais formaram blocos relevantes no Brasil, mas ultimamente, com a demonização generalizada da política promovida pela lava-jato, mais o discurso radicalizado anti-petista surgido dos protestos que levaram à cassação de Dilma Roussef, possibilitaram a ascensão do ex-capitão do Exército, com suas propostas populistas e de apelo autoritário. As pesquisas o indicavam como o preferido por cerca de 20% dos eleitores, antes do ataque. Especula-se agora quantos votos a mais ele ganhará em decorrência de ter sido vítima de uma ação violenta. Suas chances de ir ao segundo turno dependem, apesar de tudo, do grau de dispersão do eleitorado de centro-direita.
O centro do nossa massa eleitoral detém cerca de metade dos votos e ele decide as eleições, à medida que pende ora para a esquerda ou para a direita. Esse centro é tradicionalmente avesso às ideias extremistas. Lula, por exemplo, só conseguiu finalmente se eleger quando abrandou o discurso e assumiu compromissos políticos mais palatáveis a essa enorme parcela da população.
Como ficamos então? O que deve acontecer em Outubro?
A única ferramenta confiável disponível para prever o futuro, neste caso, é a observação dos eventos passados, embora o ambiente atual possa ser tão diferente que invalide as conclusões baseadas nas eleições pretéritas. Assim, com base no que se conhece do comportamento do eleitorados em outras eleições, pode-se prever Fernando Haddad no segundo turno, se ele for capaz de finalmente se apresentar e convencer como o legítimo substituto de Lula na chapa petista. A outra vaga no segundo turno pode ser de um dos candidatos de centro que consiga convencer pelo menos um quarto do eleitorado que ele seria a melhor opção para barrar ao mesmo tempo a esquerda e o radicalismo de Bolsonaro. Por outro lado, se o centro se dispersar demais entre Alckmin, Meirelles, Amoedo, Ciro e Marina, Bolsonaro certamente vai ao segundo turno. Aí teremos duas belas opções, ficamos na caldeira fervente ou saltamos na fogueira.