sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Seria o parlamentarismo a vacina anti-esquerdas?

O assunto Reforma política tem sido debatido há trempos no Brasil e, recentemente, com a extinção do financiamento empresarial de campanhas, decidida pelo STF, e a aproximação das eleições gerais de 2018, a discussão ganhou uma pitada do tempero da urgência, já que não há atualmente uma fonte alternativa para a grande quantidade de dinheiro demandada por uma jornada eleitoral nacional nos moldes atuais.
Os temas tidos como relevantes no debate são de caráter tanto operacional quanto estrutural. De caráter operacional temos principalmente a discussão em torno do modelo das campanhas e fontes de financiamento. A estrutura do sistema envolve temas como cláusula de barreira, coligações eleitorais e a escolha do regime de governo, se continuamos no presidencialismo, que tanta instabilidade tem trazido, ou migramos para o parlamentarismo.
Alega-se que o parlamentarismo torna os rearranjos e reacomodações do poder político muito mais suaves que o presidencialismo, o que é verdade. Por outro lado, o que tem sido pouco comentado ou percebido é a consequência prática de assumirmos o parlamentarismo.
Pelo histórico de votações para o Legislativo, o campo das esquerdas (incluindo aí o PSDB) ) tem ficado com pouco mais de um terço da representação na Câmara dos Deputados, de modo que estão muito longe de alcançar a maioria. Já todo o arco ideológico que exclui as esquerdas, que chamaremos aqui de Centro-direita e inclui PMDB, PP, PR,PSD, DEM, PRB e outras siglas menores, fica com cerca de 60% das cadeiras.
Bom, como sabemos e sentimos na pele, embora represente apenas cerca de um terço do eleitorado, as esquerdas conseguiram eleger os quatro últimos pleitos presidenciais no Brasil.
Então a questão que se alevanta é a seguinte: sem a possibilidade de eleger o chefe de governo numa eleição majoritária (foram todas em segundo turno, quando necessariamente há um confronto direto e binário) como tem ocorrido nas últimas quatro eleições, a única chance da Esquerda algum dia voltar ao poder seria contando com uma divisão profunda no bloco Centro-direitista, para poder formar uma coligação política extraordinariamente ampla e improvável.
Será que a aprovação de um regime parlamentarista representaria a vedação permanente do acesso das esquerdas ao comando do poder Executivo?

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