Neste final de 2017, observando a cena política brasileira em sentido
amplo, que envolve todo o sistema de poder político, vemos um quadro
extremamente deteriorado e perigoso para o futuro da nossa democracia.
Enquanto encontramos os poderes Legislativo e Executivo encurralados,
apanhando intensamente de todos os lados, vemos amplos setores do poder
judiciário, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal a ocupar cada
vez mais o espaço de poder deixado pelos políticos eleitos, os únicos que tem
legitimidade para falar em nome do povo. O que acontece?
Algumas variáveis se combinaram para nos trazer ao atual estado de
coisas. Primeiramente foi a ascensão do pensamento de esquerda ao centro do
poder político, com a eleição de Lula e a manutenção do PT no poder por três
mandatos presidenciais e meio. Nesse período, além da administração desastrada,
que conduziu o país ao caos na Economia, a esquerda acabou por atingir a elite
da Burocracia pública, com as nomeações de esquerdistas para os tribunais
superiores, para a chefia do MPF, da PF e demais posições importantes da
administração federal.
Assim, finalmente tivemos a ascensão, após uma longa e silenciosa
caminhada que remonta aos anos 60 do século passado, do pensamento de esquerda,
que é essencialmente autoritário e propenso a atropelar os freios e contrapesos
do Estado Democrático de Direito, ao topo das elites no serviço público, no
jornalismo, nas artes, enfim, na intelligentsia brasileira.
Ocorre que o grosso da população brasileira, as chamadas classes
populares, é conservadora e instintiva e vagamente adepta aos valores da
tradição judaico-cristã, especialmente nos costumes. Isso nos leva a ter uma
sociedade dividida. De um lado temos uma elite numericamente minoritária, mas
muito influente no dia a dia da vida do país, e do outro lado a grande massa da
população, inexpressiva e pouco influente na imprensa e nos espetáculos, mas
invencível nas urnas.
Desse modo a nossa representação política reflete, apesar de todo
desgosto da nossa elite cultural, uma forte tendência conservadora,
refletindo mais ou menos o perfil da média da cidadania brasileira. Aí nossa “elite
cultural” - que sonha com uma sociedade comandada por gente como Marina Silva,
Marcelo Freixo, Jean Wyllys, Luciana Genro, Randolfe Rodrigues, Alessandro
Molon, etc, etc -, sentindo-se muito superior ao resto da população e muito
capaz de decidir os destinos da nação, se revolta com o voto do povo e começa a
escarnecer, desqualificar, caluniar e rotular os representantes eleitos fora do
campo das esquerdas. Se o político tem alguma ligação com o agronegócio, só
pode ser um escravista, desmatador, grileiro, resumindo: bancada ruralista, sinônimo de atraso e exploração do trabalhador e
do meio ambiente; se tem alguma posição forte no campo da segurança pública, só
pode ser pelo “genocídio” de pretos pobres nas periferias, pela violência
policial, ou seja: bancada da bala;
rejeitar o aborto, a liberação das drogas, dentre outras bandeiras dos
descolados, só pode ser para a gente esquisita da bancada da Bíblia.
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