quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A desamparada Democracia brasileira

Nossa breve democracia está à beira da morte e pouquíssimos brasileiros demonstram algum pesar, lamentavelmente. O que acontece? Como chegamos até aqui?
Bom, não se pode dizer que a democracia está no DNA da nação brasileira, a triste verdade é que o valor da democracia parece que nunca ficou evidente para o nosso povo. Desde a fundação dessa República, através de um golpe de estado, há 129 anos, até hoje, nós fomos governados por longos períodos de regimes autoritários intercalados por breves hiatos democráticos. Cada um deles interrompido pela força, sempre que houve um impasse político mais forte. Dessa vez, se realmente acontecer, não será pela força, mas pelo abandono puro e simples dos princípios democráticos pela maioria dos eleitores.
O atual período democrático que vivemos sucedeu uma ditadura militar que se estabeleceu a partir de 1964, com forte apoio de setores conservadores da sociedade, como reação à escalada das esquerdas, que vinham crescendo no mundo inteiro, no contexto da guerra fria, e já tendo inclusive instalado uma ditadura comunista em Cuba. De modo, então, que um regime autoritário de direita foi implantado para prevenir a ascensão de um regime autoritário de esquerda. Democrata convicto aí, se havia algum, não conseguiu deixar rastros na História.
Após a redemocratização, tivemos um retorno crescente da esquerda ao protagonismo político brasileiro, culminando com a ascensão do PT à Presidência em 2002. Uma vez instalada no poder a esquerda tratou logo de tomar as providências para não sair mais de lá. E o fez não usando a força, porque não era possível, mas subvertendo a democracia pela compra de apoio político com dinheiro roubado das estatais, muito especialmente da Petrobrás, para aprovar as medidas e mudanças constitucionais que queria. Essa perpetuação da esquerda no poder não foi possível por dois motivos principais: por um lado uma parte da base de apoio, especialmente o PMDB, desconfiava das intenções dos petistas e esquerdistas em geral e barrava as mudanças constitucionais que atingiam mais fortemente os fundamentos do estado democrático, pelo outro lado, a deterioração da economia nacional, causada pelas políticas governamentais petistas, precipitaram a queda de Dilma Roussef pouco depois de ter sido reeleita.
A queda de Dilma foi precipitada pela recessão econômica e pela efervescência política que levou milhões de pessoas às ruas para protestar contra seu governo. Ocorre que dessa efervescência emergiu rapidamente o outro lado da alma autoritária brasileira, uma cara raivosa e vingativa, de caráter fascistoide e auto-conclamado perfil de extrema-direita. Essa massa movida pela raiva e pela vingança está pronta para agir, linchar e atropelar, mesmo que com isso ela própria seja sacrificada, como provou a recente greve dos caminhoneiros, que teve amplo apoio de suas vítimas.
Assim, uma vez mais, num contexto internacional que mostra a democracia sendo fortemente questionada em várias partes do mundo, nós, com nossos autoritários à esquerda e à direita muito perto de formar a maioria necessária para tirar os poucos democratas restantes do jogo político, estamos à beira de mais um período sob regime ditatorial. Uma pena

Nenhum comentário:

Postar um comentário