domingo, 9 de setembro de 2018

Sobre as eleições presidencias daqui a menos de um mês

Pronto! Mais um evento para tumultuar o já tempestuoso ambiente político brasileiro. No momento em que escrevo este texto, Jair Bolsonaro, líder de fato das pesquisas eleitorais para a presidência (líder de fato porque o líder numérico, Lula, está preso e é inelegível), está internado na UTI do Hospital A. Einstein, em São Paulo, se recuperando de um ataque à faca que recebeu em Juiz de Fora na última quinta-feira.
Que decisão o eleitorado brasileiro tomará para o seu próprio futuro na eleição que se aproxima?
O ambiente da política nacional está confuso e imprevisível a mais não poder. As condições para a tomada de decisão de voto de modo racional e fundamentado, praticamente inexistem. O eleitor seguirá seus instintos e suas emoções, baseado em percepções e fragmentos de informações, como, afinal, sempre ocorre, na maioria dos casos.
Após três mandatos e meio do PT na presidência da república, onde a retórica divisionista de "nós contra eles" foi preponderante, temos um país muito dividido e de extremos aparentemente irreconciliáveis. Assim, o cardápio de opções do eleitorado, apesar dos muitos candidatos, é bastante limitado, vejamos:
O campo à esquerda tem os extremistas sem voto mas muita retórica comunista e autoritária, que acabam por lhes dar influência desproporcional, especialmente na imprensa e nas artes. Esses, pela pouca relevância eleitoral acabarão, como sempre, atraídos pelo centro de gravidades petista, compondo um blocão de esquerda. Teoricamente, e as últimas eleições tem confirmado isso, esse campo contará com cerca de 30% dos votos válidos ou um pouco menos, o que é suficiente para ir ao segundo turno, quando, então, terá que conquistar muitos votos do centro para se eleger.
À direita temos dois blocos, o tradicionalmente enorme bloco da centro-direita se dividiu e agora temos uma extrema-direita, vamos chamar assim por não me ocorrer termo melhor no momento, embora o ache impróprio, e o centro-direita.
As ideias ultra-conservadoras e ultra-liberais jamais formaram blocos relevantes no Brasil, mas ultimamente, com a demonização generalizada da política promovida pela lava-jato, mais o discurso radicalizado anti-petista surgido dos protestos que levaram à cassação de Dilma Roussef, possibilitaram a ascensão do ex-capitão do Exército, com suas propostas populistas e de apelo autoritário. As pesquisas o indicavam como o preferido por cerca de 20% dos eleitores, antes do ataque. Especula-se agora quantos votos a mais ele ganhará em decorrência de ter sido vítima de uma ação violenta. Suas chances de ir ao segundo turno dependem, apesar de tudo, do grau de dispersão do eleitorado de centro-direita.
O centro do nossa massa eleitoral detém cerca de metade dos votos e ele decide as eleições, à medida que pende ora para a esquerda ou para a direita. Esse centro é tradicionalmente avesso às ideias extremistas. Lula, por exemplo, só conseguiu finalmente se eleger quando abrandou o discurso e assumiu compromissos políticos mais palatáveis a essa enorme parcela da população.
Como ficamos então? O que deve acontecer em Outubro?
A única ferramenta confiável disponível para prever o futuro, neste caso, é a observação dos eventos passados, embora o ambiente atual possa ser tão diferente que invalide as conclusões baseadas nas eleições pretéritas. Assim, com base no que se conhece do comportamento do eleitorados em outras eleições, pode-se prever Fernando Haddad no segundo turno, se ele for capaz de finalmente se apresentar e convencer como o legítimo substituto de Lula na chapa petista. A outra vaga no segundo turno pode ser de um dos candidatos de centro que consiga convencer pelo menos um quarto do eleitorado que ele seria a melhor opção para barrar ao mesmo tempo a esquerda e o radicalismo de Bolsonaro. Por outro lado, se o centro se dispersar demais entre Alckmin, Meirelles, Amoedo, Ciro e Marina, Bolsonaro certamente vai ao segundo turno. Aí teremos duas belas opções, ficamos na caldeira fervente ou saltamos na fogueira.


Nenhum comentário:

Postar um comentário